quinta-feira, 12 de março de 2015

31 anos - dia 15

Estamos naquela fase de textos em que eu preciso encontrar um tema mais especifico para falar, embora eu tenha tanta coisa para dizer. Daí pensando um pouco mais sobre alguns temas resolvi falar sobre um compilado de coisas que eu acredito serem importantes, principalmente para quem está me conhecendo agora. Algumas pessoas sabem o que eu acho sobre várias coisas, outras não. São opiniões muito fortes e muito intensas, mas que apesar disso, me tornam quem eu sou. Escolhi três tópicos que sei que são polêmicos, mas que na minha humilde opinião, ainda que recebendo críticas, são opiniões de uma mulher de 30. Não tem jeito, mesmo me sentindo tão imatura, ainda assim preciso tentar agir como adulta. Os temas são: aborto, homossexualidade e bulling. 

Aborto - este tema está bem em evidência. Rola vez ou outra uma campanha contra o aborto e várias mulheres postam fotos grávidas. Acho muito legal porque eu adoro ver mulheres grávidas. Gosto de compartilhar esse momento especial na vida das mulheres que convivem comigo. E mesmo sendo contra o aborto, eu não julgo quem é à favor ou quem tenha praticado este ato. Com o tempo percebi que as decisões pessoais, são como o nome diz, pessoais. Não creio que quem aborte deva ser colocado em pregos. Também não uso a frase: na hora de fazer foi bom, para definir uma pessoa que opta por essa decisão. Eu dou graças a Deus por nunca ter precisado passar por isso, embora quando eu tinha 19 anos eu achei que estava grávida e sim, a primeira coisa que me veio à cabeça foi tirar a criança. Hoje, aliviada, penso muito na minha atitude na época e agradeço por não ter que carregar algum fardo relacionado à isso. Mas sempre pensei por exemplo que se eu ficasse grávida após um estupro eu talvez voltasse a querer tomar tal atitude. Mas o tempo passou e nada de gravidez. Hoje aos 30, nutro metade da vontade de ser mãe e metade da vontade de ser apenas tia e tia-avó. Não ter filhos deve ser uma opção decidida, acredito eu, ainda jovem. Sou completamente à favor do planejamento familiar e do ensino sobre sexualidade na escola. Defendo o uso de preservativo e como já disse, jamais julgarei uma mulher que decida pelo aborto. Sei que é difícil e sinto que não deva ser uma decisão muito simples de ser tomada, mas quero que quem ler este texto e precisar de um apoio, possa recorrer à mim sem medo. E principalmente, rezo para que quem aborte o faça com o mínimo de dignidade e que possa principalmente se perdoar. 

Homossexualidade: quem me conhece sabe que eu sou totalmente relax com relação à este tema. Acho super natural, embora exista por aí sempre uma discussão super fervorosa sobre o tema. Me espanta o preconceito com relação aos seres humanos que são gays, lésbicas e simpatizantes. Acho que não é algo que se adquire, mas que é algo com o qual você nasce. Não se vira gay, não é culpa da criação da avó, nem acredito que a TV vá influenciar nessa opção e acho cafona quem vira e diz que não é preconceituoso, mas quando acontece com algum parente vira as costas. A única coisa que eu sempre converso muito, principalmente com quem está naquela duvida, é que é preciso manter sempre o respeito. Principalmente com quem não é. Acho que é importante manter essa posição e respeitar. Um respeitando o outro, sem violência. Ser hétero ou não, ser gay, branco, negro, ou qualquer outra coisa, não me difere do outro. As dívidas permanecem, as contas precisam ser pagas, o mundo precisa de pessoas, não de sexo, raça ou credo. Simples. Não há necessidade de agir preconceituosamente. É feio e sei que Deus não gosta disso.

Bulling - parece esquisito tocar nesse assunto, mas é outro tema que anda muito em evidência nos últimos anos. Digamos que virou moda, embora não veja dessa forma. Quando criança eu sofri algum tipo de bulling: ou por ser sempre a mais baixa da turma, ou por não falar o R, ou por me confundir nos idiomas. Quando fui crescendo, era porque era gorda, depois porque era magra e por aí vai. Ter sido magra, muito magra, foi meio que resultado de tudo que ouvi sobre o meu corpo. Chorei muitas vezes calada, embora não me visse como vítima da sociedade careta e mau educada. Sofri muito mais por não saber responder à altura. E é isso que me entristece e me dá medo. Porque o problema é justamente quando a pessoa não consegue responder ao desrespeito. Eu foquei. Não me fechei em meu mundo. Demorei a aceitar a situação negativa, mas quando acordei, e sei que foi à tempo, ignorei totalmente os olhos atravessados e os sussurros inconvenientes. Sou à favor do dialogo. E essa questão eu falo em tudo que penso. Falta para o ser humano, humanidade e dialogo. Desta forma surge, porque muitas pessoas precisam que esse sentimento surja, de respeito. Para mim, respeito ao ser humano é algo que você nasce com ele. 

Sei que muitas vezes, nos três temas acima, fui infantil de alguma maneira. Essa minha visão mais humana das situações, é resultado de muita reflexão e de muitos erros e injustiças. Sei que não estou livre de errar e de julgar, mas eu agradeço à Deus pelo auto-reconhecimento do erro. Já dei muitos foras, comentei o que não devia e claro, desrespeitei. Mas imediatamente me retrato, não para aparecer, mas porque sei que não sou e nunca serei superior à absolutamente ninguém. O erro do outro, não é o meu erro. A escolha do outro, também. 



terça-feira, 10 de março de 2015

31 anos - dia 13

Muitas águas irão rolar até o dia 28 de março, por isso sigo a minha rotina de postar textos sobre meus últimos anos no mundo. Os temas são bem aleatórios. Escrevo sobre coisas que sinto, vivi, quero, gosto e acho legal. Não obrigatoriamente você precisa ler. Espero que leia, claro. Mas não é obrigado nem a opinar. Aliás, prefiro. hahah Medo da rejeição.
E o texto 13 é uma homenagem ao meu blog que foi ao ar pela primeira vem em 13 de abril de 2007.
Já já 8 anos serão completados e cada dia mais eu gosto de escrever e vivo cheia de ideias. As vezes penso em virar blogueira. Mas sabe, escrevo muito mais por prazer. Ganhar dinheiro eu ganho de outra forma.
O fato é que tenho um projeto específico de criar um livro a partir de alguns textos meus aqui. Um sonho antigo mesmo. Fico até imaginando a tarde de autógrafos. Mas ao mesmo tempo penso que não terei público. O que gerará um misto de vergonha e mico. E rapidamente esqueço esse sonho e parto para outro sonho: o de escrever puro e simplesmente pelo prazer que me dá colocar para fora metade das coisas que sinto e penso. 
Ao longos desses quase 8 anos de carreira, sim porque apesar de tudo, consegui muitas coisas por conta dessa coisa toda de achar que escrevo bem, eu ouvi muitas e muitas críticas. Algumas me fizeram repensar o blog. Já ouvi de pessoas muito próximas e especiais que eu me acho a escritora, mas que as coisas que escrevo são baboseiras. Imagina! Eu queria morrer neste dia. Quando pequei a impressão que a pessoa havia feito do texto só para me machucar, me senti pequena e vazia. Isso foi logo no começo mesmo, acho que não tinha nem um mês de blog. Lembro até hoje com um certo carinho desse momento. 
E é isso que eu sinto pelas críticas: carinho. Apesar de algumas lágrimas derramadas, sinto que algo do que escrevo ajuda. Pode não ajudar à você, mas ajuda sim. Porque eu leio tantos blogs, muito deles nem famosos e me ajudam tanto! Não é que eu me ache, mas é bom imaginar que uma pessoa leia o blog, se identifique de alguma maneira. Porque sinceramente eu não venho aqui escrever só para mim, porque nem faz sentido. O sentido todo é dividir mesmo. Mesmo que eu não seja uma ativista, feminista, dona de uma ONG ou caridosa, quero muito que meu blog seja uma transmissão de esperança e vontade para quem o ler.
E assim eu continuo escrevendo. As vezes falo bobagem mesmo, mas até Paulo Coelho foi criticado, porque eu devo acreditar que não receberei alfinetadas né? E continuo agradecendo imensamente, porque sei que foram esse momento de deixa eu pisar na sua cabeça, que me fizeram a pessoa que eu sou. Ninguém se torna internamente poderoso sem atravessar caminhos tortuosos.
E graças a Deus por conta do Bolshaia tenho muitos amigos, recebo vários e-mails com elogios. O facebook me ajuda muito pois gosto de compartilhar uma coisa ou outra. 
E peço a Deus sempre sabedoria. Para escrever sempre de forma honesta, intensa e alegre. E que eu possa ser um pequeno instrumento de alegria na vida do outro e que ao ler meu blog ele se sinta com vontade de seguir sorrindo.
Agradeço muito a quem me incentivou lá atrás para que não desistisse. Ouvi várias vezes que seria injusto pois ela dava gargalhadas quando lia meus textos críticos. E que se emociona quando eu conto algo um pouco mais triste mas com leveza. Ambas críticas foram positivas e me trouxeram para o caminho que hoje sigo cada vez mais feliz. 
E que até o meu último dia de vida eu escreva. 

segunda-feira, 9 de março de 2015

31 anos - dia 12

Adoro rever minhas fotos antigas. Ando postando um monte delas no instagram e facebook. Junto vem toda a história relacionada a cada pose, sorriso. Alguém comentou comigo que a grande maioria das fotos eu estou sozinha. Mas é que eu sou exibida. Sempre fui. Sempre gostei de fotografar e por isso mesmo me imaginava sendo jornalista, aparecendo na TV. E como eu tenho foto!. Quando cuidava da mudança para o novo lar me surpreendi com o tanto de cd com foto. Olhando o facebook tenho tanta foto que nem sei como não enjoo da minha própria cara.
Não me acho bonita. Nunca me achei. Até os 15 anos então me achava medonha. Aí ganhei um aparelho e arrumei meus dentes. Aí pronto. Nunca mais parei de sorrir. Costumo ouvir muitos elogios a ele. E aproveito. Mas continuo achando que possuo uma beleza interior muito mais intensa do que a exterior.
Quando estava de férias em Florianopolis, uma pessoa comentou a facilidade que eu tenho de fazer amigos e conseguir paquerar. Mas a verdade é que eu não chego em um lugar e chamo atenção até eu sorrir. E sei que muito do que alcanço é muito mais pela minha espontaneidade e zero timidez. 
Graças à isso consegui muito do que tenho hoje. Na adolescência fiz teatro, cheguei inclusive a participar de um festival de música, mesmo com a voz mais piorada do mundo. Porque eu sou assim: eu quero causar, mas não no estilo Vice-Miss bumbum. Sempre achei que deveria ser simples, honesta e simpática ao ponto de que sintam a minha falta. E não somente pela beleza, essa que eu sei que não tenho.
Não faço um estilo. Aliás nem tenho um estilo. Uso a primeira coisa que vejo no armário. E sou Secretária e uso terno, que é a base da profissão. Fora isso, gosto de conforto. Daí que isso reflete na tal beleza. Ser simples por dentro e por fora é sempre minha meta, ano após ano e espero muito que aos 40, daqui a 9 anos, eu esteja magra, e com o mesmo sorriso de muitos anos atrás. Porque eu sou feliz há 31 anos e quero muito que as pessoas que convivem comigo entendam isso e sintam isso. 
E só. Nada de procedimentos estéticos, botox, lifting e sei lá mais o quê. Pensei no silicone, mas ah, quem me quiser será assim mesmo. Não malho, mas não como carne, acho que já uma boa ajuda.E sou feliz. 

domingo, 8 de março de 2015

31 anos - dia 11

Esse ano eu completo 10 anos como Secretária Executiva. As aulas começaram em 14 de fevereiro de 2005 e em julho de 2008 eu tive meu último dia de aula. Boa parte dos textos deste blog foram escritos na biblioteca da minha antiga faculdade. Passei muitas horas sentada em frente ao computador ou dormindo. Sempre fui muito dedicada, mas as vezes eu estava só cansada.
Foram anos muito intensos. Em outros momentos tristes.  Conheci muitas pessoas. Fiz 5 estágios e tive 2 empregos. Por mais de um ano fiz dois estágios. No começo de tudo eu caminhava por mais de uma hora e 15 minutos porque eu só tinha a passagem de ida e volta para casa. No fim do curso voltei a caminhar, porque eu saía muito cedo do estágio, preferia ir caminhando. Cheguei a ficar algum tempo muito dura mesmo. Pedi para sair da loja porque precisava pagar as mensalidades atrasadas. Emagreci tanto que cheguei a pesar 37 quilos. Fui em muitas festinhas sem beber nada de álcool. Namorei algumas pessoas. Amei algumas. Agradeço à vários professores que sempre acreditaram em mim, apesar de na grande maioria das aulas eu só babar em cima dos livros. Participei ativamente como Representante de turma, embora quase tenha sido expulsa do cargo porque dedurei uma professora que dormia durante as provas. Colei também, em Matemática Financeira e Contabilidade, calcular nunca foi o meu forte mesmo. Consegui um mês de bolsa e assim terminei os estudos sem dever absolutamente nada. Chorei, briguei, ganhei inimigas, perdi amizades. Mudei o estilo do cabelo umas 10 vezes. Já defendi causas, já paguei mico, engessei o braço, faltei apenas 4 vezes em quase 4 anos. Já saí arrasada de prova e ao mesmo tempo fiz apresentações perfeitas de trabalhos. 
Eu poderia ficar falando horas sobre esses anos de estudo. E mesmo que não pareça, eu estudei. A partir do segundo semestre eu decidi que me formaria. E que me formaria por mim em primeiro lugar. Em todas as minhas quedas eu pedia a Deus que não desistisse. Vontade não faltou. Faltou também em vários momentos vontade de seguir. Senti preguiça. Desanimo. Me questionei. Chorei. Quando eu precisava decidir entre tomar banho, comer ou dormir e eu escolhia dormir e acordava as 05 da manhã para chegar em casa meia noite, sim meus caros, eu pensava que nunca teria fim. Mas teve. Não um fim comum, mas um fim com um começo profissional especial na Embaixada do Peru e em seguida ANTAQ, onde há 5 anos me sinto feliz e realizada. 
Ainda tenho um longo caminho. 10 anos ainda é pouco. Pouco para quem sonha, para quem quer que essa profissão seja respeitada. Almejo um futuro cada dia mais promissor para mim e para meus e minhas colegas de profissão. Amo o que eu faço e quero fazer o melhor todos os dias. Sou humana, as vezes quero enforcar um, chutar a cara de outro, responder atravessado. Mas aí eu me lembro da promessa feita no dia da minha Colação de que eu respeitaria a profissão acima de qualquer coisa. Quem me conhece sabe que eu sou Secretária Executiva por amor. Um amor que aumenta cada vez mais. 

sábado, 7 de março de 2015

31 anos - dia 10

Quando falei do meu primeiro namoradinho ontem, lembrei do meu aniversário de 15 anos. Faz tanto tempo mas me lembro muito bem daquele domingo. Fiquei feliz porque seria na Igreja que eu frequentava com meus pais lá me Moscou e que fazia parte de 3 dos 4 anos que vivi lá. Meus pais tinham feito uma festa super legal no meu aniversário de 13 anos, mas no de 15, por ainda estar longe dos familiares, optei por algo menor e mais simples. Não teve convite, não teve valsa, nada disso. Mas foi muito, muito lindo.
Minha mãe costurou as duas roupas que eu usei, comprou um sapato lindo, arrumou meu cabelo, me maquiou de forma discreta, pintou minhas unhas. A missa aconteceu às 15 da tarde com a presença de muitos amigos da Igreja e da Embaixada. Minha afilhada Belipia, seus pais e sua irmã estiveram presentes. Quase que o povo se atrasa, pois era o primeiro dia do horário de verão por lá. 
Foi emocionante. A missa foi especial, celebrada por 3 padres de quem eu era muito amiga, um espanhol, um colombiano e um brasileiro. Voltamos para casa e tinha bolo feito pela minha comadre, docinhos feitos pela minha mãe, champanhe para o brinde e tive direito à dançar com meu pai, não uma valsa, mas uma salsa que ninguém dançou de fato, só mexemos o corpo. Mas os sorrisos eram sinceros e vieram do fundo do coração. Abrimos os presentes e estavam comigo duas amigas da escola: Lilia e Ira. Foi muito legal! Talvez a única coisa que hoje me pareceu estranho foi que eu comemorei meu niver com a filha de um casal  de amigos, que faz aniversário junto comigo. Mas não chega a ser nada dramático. Nem na época me pareceu. 
No outro dia meu pai chegou com as passagens para o nosso retorno para o Brasil: 26 de maio de 1999. Eu fiquei radiante. Era muita alegria para o meu coração. 
Nunca sonhei com uma grande festa de 15 anos. Já naquela época achava um desperdício de dinheiro. Não via lógica em fazer uma festa grande, principalmente lá, pois não estariam presentes mais da metade das pessoas que eu queria que estivessem. Por isso olhos as fotografias deste dia e sinto uma paz enorme. Porque desde sempre gostei de comemorar meu aniversário de forma discreta, com poucas pessoas e sempre agradecida. E aquele domingo nublado, de fim de inverno foi um dos mais especiais que já vivi na vida. Um dos melhores aniversários, um dos mais sinceros. 

sexta-feira, 6 de março de 2015

31 anos - dia 09

Ontem falei sobre fim de relacionamento e daí lembrei do meu primeiro namoradinho. A nostalgia tem batido forte por aqui nestes últimos dias. Estou adorando conversar um pouco sobre vários assuntos. A verdade é que nem sei se alguém vem lendo, mas mesmo assim, escrevo para a minha posteridade pessoal. 
Vamos lá. 
Conheci meu primeiro amor em fevereiro de 1999. Ele chegou com o pai, a irmã e madrasta. O seu pai ia para substituir o meu quando ele voltasse para o Brasil. Papai chegou em casa dizendo que ia emprestar um TV para eles e eu o acompanhei. Quando eu entrei e o vi, pronto. Minha perdição estava instalada. Moreno, alto, três anos mais velho do que eu, eu então com 14 anos. Nascia ali uma amizade gostosa. Adorava conversar com ele. E tirar onda obviamente. Eu era gorda, feia, dos dentes tramelados, mas por algum motivo atraia este menino cada vez mais para perto de mim. Descobri depois que era a solidão. Ele se sentia solitário e inconscientemente, acho eu, acabou se deixando envolver. 
Meu aniversário foi comemorado no domingo, no dia mesmo em que eu completava 15 anos. E quando ele me parabenizou ele me disse que queria me dar um beijo. Eu não tive coragem. Eu era boba e nunca havia beijado de verdade. 
Mas no dia 04 de abril, um domingo depois, finalmente ganhei o beijo mais doce e suave que já dei até hoje. Me apaixonei perdidamente. Foi engraçado porque estávamos almoçando na casa dele, e meus pais estavam na cozinha com o pai dele e madrasta. A irmã desapareceu e ele tascou um beijo do nada. Na TV, Believe, com Mariah Carey e a saudosa Whitney Houston. Lembro cada detalhe, mas esqueci a roupa que eu usava, sorry!
Foi sem dúvida um namoro bom. Nunca foi nada sério, porque claro primeiro que eu só tinha 15 anos. Venho de uma família muito tradicional e por mais que eu fosse uma pessoa à frente do meu tempo, não tínhamos muita coisa em comum. Ele era muito lindo, mas não se encaixava naquilo que eu vinha planejando quando retornasse ao Brasil. Vim embora em maio de 1999, ele em agosto do mesmo ano, tentamos levar adiante o romance, mas cansei depois de passar 3 anos ele me ligando dizendo que estava indo me visitar e não aparecer. Dizendo que estava enviando flores e até hoje as espero. Um dia sem mais nem menos me contou que seria pai. Chorei copiosamente, apesar de sentir que nunca daríamos certo.
16 anos depois, cada um seguiu seu caminho. Eu divorciada, ele recém-casado. Ele pai e eu planejando retornar em 2018 para o lugar onde tudo começou. Moscou. Copa do Mundo. Quem sabe agora eu não consiga um russo bacana né?



quinta-feira, 5 de março de 2015

31 anos - dia 08

No oitavo dia de muitos relatos sobre a minha vida e pessoa, pensei em desabafar sobre como eu lido com os finais dos meus relacionamentos. Pensei nisso porque realmente sou expert na arte de dar foras e levar foras. Na adolescência isso era mais comum eu dar foras, mas com o passar do tempo a coisa toda se voltou contra mim. 
Sempre fui de namoricos. Nunca gostei muito de namorar. Achava estranho minhas amigas com 17 anos namorando há 3, por exemplo. Achava insano. Ainda acho. Sempre quis curtir a vida, principalmente porque eu sabia que teria muita luta pela frente quando crescesse. 
Então sinceramente e sem nenhuma culpa admito que como diz o ditado popular: passei o rodo. É feio? Não sei. Nunca parei para ficar pensando no que os outros pensam de mim. Principalmente com 15 anos, quando eu já tinha meus próprios complexos. 
E aproveitei ao máximo para namorar vários tipos de rapazes. Gostava de ter opções. Sei lá. Curti mesmo.
Meu primeiro namorado oficial mesmo, de durar, como costumo dizer, foi aos 19 anos. Um rapaz da Igreja, 10 anos mais velho, super gente boa. 6 meses depois eu já estava muito entediada. Terminei e sofri um pouco, mas depois disso somente aos 22 anos que namorei novamente por mais de 6 meses. E depois disso, só meu ex-marido que foi àquela loucura toda de em um período de um ano morar junto, noivar e casar. 
O que me deixa tensa é que todo começo é lindo, mas por mais que o tempo passe, o fim de uma relacionamento é sempre um trauma. Eu sei que isso é para todo mundo. Mas eu fico triste as vezes porque eu tenho muito mais finais de relacionamentos do que o normal. Já tratei isso na terapia e cheguei a conclusão nenhuma. 
Só sei que com o tempo você aprende a dizer a verdade. Já não é "o problema sou eu e não você". Quando se consegue terminar um casamento de 3 anos, é possível reagir de forma mais serena em qualquer tipo de final de relação, durando o tempo que for. E é isso que eu faço. Quando alguém termina comigo eu xingo até a terceira geração dos filhos dele, mas entendo. Porque eu sei que sou uma pessoa complicada de conviver. Se fosse fácil eu não estaria aí à procura. Quando eu termino eu digo logo: o problema é você. Não curti, não quero e acho que não tem nada a ver. Viro e saio correndo. hahahaha.
Enfim. Dói. Terminar ou ser descartada sempre é para mim motivos de muito álcool. Mas hoje sofro bem menos do que na adolescência . E por sorte tenho me divertido mais. Não pedi para ter a liberdade de escolha lá atrás, mas já que me deram essa chance eu irei sempre aproveitar. 

quarta-feira, 4 de março de 2015

31 anos - dia 07

Hoje vou desabafar com vocês toda a minha questão quase mortal da anorexia. Vocês já acompanharam aqui toda a história, de como eu demorei a melhorar e as vezes se perdem entre a minha vontade de comer bem, meu medo de engordar e o meu descaso total com a alimentação.
A verdade é que eu não sou muito do tipo que gosta de comer. Sou uma pessoa que tem momentos em que gosta de comer. Gosto das companhias para comer, o que sugere que em finais de semana sozinha eu não como. Isso mesmo. Não como nada além de beber água. Em momentos mais felizes como salgadinhos e pão de queijo. 
Mas já fui muito pior. Imaginem vocês que eu era capaz de sentar em um restaurante, pedir uma lata de coca e passar 3 horas tomando a mesma? E quando eu almoçava com um ex e comia tomate e alface? Ou quando comia em um pires de uma xícara de chá e achava que estava abafando? Ou quando inventava cardápios de almoço para uma chefe?
Fiz muitas loucuras enquanto anoréxica. Muitas mesmo. Mas só me dei conta disso quando um dia qualquer achando que estava com pneumonia, na verdade eu estava há 1 dia de perder o meu rim direito por conta de estar desnutrida. Antes disso desmaiei em um consultório médico e precisei, pasmem, de 8 horas de soro para poder voltar para casa. 
Conto essas coisas hoje rindo muito, porque apesar de não ser uma pessoa que ama comer, acho que perdi muito tempo com isso. Acho que não era gorda coisa nenhuma, apesar de usar o número 44 e ter 110 cm de bunda. Devia ter tido orgulho disso, porque agora para ostentar algo do tipo só malhando e podem me julgar, odeio academia. 
Estou em uma fase mais relax, mas tenho me motivado internamente a procurar algo que me anime. Natação, mesmo não sabendo nadar é algo que gosto, mas que sim, dá muita fome. Pensei em Pilates, muito caro. Não posso dançar por conta da cirurgia no dedo do pé. Ainda não sei, só sei que acontecerá. 
O que herdei com a anorexia? Além de infelicidade, gastrite nervosa, anemia piorada, intolerância à lactose e um pouco de nojo de carne, de todo tipo. Ainda caio um pouco na tentação de um pedaço ou outro, mas sempre chego em casa e acabo colocando tudo para fora. 
Tive que optar por não aceitar a ditadura da beleza. Optei por mim. Não pelos outros. Sou essa. Hoje com uma barriguinha, talvez um pouco sem animação para ostentar o bumbum na nuca, mas consciente de que não preciso mais ser magra. Preciso ser feliz. Vou cuidar da saúde e isso prometi para mim mesma, e apesar de toda dificuldade de largar alguns vícios, tudo o que eu quero é nunca mais acordar, olhar no espelho e me ver um cadáver. 

terça-feira, 3 de março de 2015

31 anos - dia 06

Dando um salto bem grande no tempo, quero dividir com vocês como foi para mim conseguir meu primeiro emprego de carteira assinada. Acho essa parte da minha vida muito legal, principalmente porque foi tão ao acaso que me pergunto se realmente foi isso e obvio que não é né? Isso com certeza tem as duas mãos de Deus sobre o meu destino. 
Aos 19 anos frequentava todas as terças feiras um pagode/axé (esse ritmo vivia um auge muito intenso, fervoroso) em um shopping de Brasília. Sempre que meus pais não estavam em casa, vale destacar. Era fevereiro e chovia muito. Depois de quase seis meses desempregada do meu primeiro emprego, que não era de carteira assinada, fui trabalhar com um Contador perto da minha casa. Chegava em casa, tomava banho e ia trabalhar depois de horas dançando os mesmo passo e bebendo água, pois eu não tinha dinheiro nem para ir de ônibus para a boate. Por conta desse excesso de farras desenvolvi uma dor e um entupimento tenso no ouvido esquerdo. Como ainda era dependente do meu Papai fui ao Otorrino e lá ele me perguntou com o que eu trabalhava. Como estava meio surda comecei a berrar que trabalhava com um velho que adorava berrar no meu ouvido, ironicamente. Daí ele me pergunta se não quero trabalhar com ele. Só que eu achei que era para trabalhar no Consultório e disse sim com toda convicção.
Só que gente, era para ser Vendedora na loja do qual ele era dono junto com a esposa. E só percebi isso de fato no outro dia quando fui fazer uns exames e ela me entrevistou certinho com currículo na mão. Quando ela me disse o que eu faria eu fiquei com muito medo. 
Mas fui, porque eu sou meio doida mesmo. De cara fui de salto, burramente, porque eu sai de lá quase morrendo de dor. No estoque a Gerente me disse que não entendia a minha contratação e que com certeza eu não duraria 20 dias. Imagina, em 10 minutos escuto isso? Sério, saí para a loja me tremendo inteira. 
Demorei um tempo para entender realmente o meu objetivo ali dentro. Demorei a me soltar, a gostar de vender. Mas com a saída da Gerente ameaçadora, pasmem, 20 dias depois, consegui me soltar mais e em muito pouco tempo comecei a me destacar. Claro que meta mesmo eu só bati depois que a Dona da loja nos avisou que quem não vendesse bem em novembro e dezembro seria demitida em janeiro. Em dois dias bati minha primeira meta e daí até eu tirar ferias fui em um ritmo muito bom. Eu ficava das 09 as 22 na loja com o maior prazer. Aprendi todas a gírias de vendas e tinha até cliente fiel. E me tornei Vitrinista de primeira qualidade, até hoje amo olhar vitrines e criticar e imaginar como eu faria diferente. Fui caixa também e Chefe de Estoque. 
Foi um ano de muito aprendizado. Sinto que era uma preparação para me tornar Secretária, porque depois da loja me tornei mais paciente, porque vendíamos roupa de criança e nesse ramo você aprende a ter paciência com a criança e os pais delas, principalmente se ele for só dar uma olhadinha. Aprendi a respeitar vendedores. Até hoje eu me sinto culpada ao entrar em uma loja para dar só uma olhadinha, porque vivi dentro do comércio todas as dores e alegrias. Bati muitas metas, fiz amizades sinceras que duram até hoje e principalmente aprendi a ter coragem de mudar. 
Saí da loja pouco mais de 1 ano depois de ter me tornado vendedora. Saí porque fazia faculdade de Secretariado e eu ficava muito cansada. Saí para me tornar Estagiária, o que para muitos na época foi considerado um ato louco, mas me lembro da Dona da loja me dizendo que só faria um acordo comigo porque sentia que eu precisava daquela faculdade para alcançar o mundo. 
Sou muito grata pela oportunidade e tanto ela, quanto o meu Otorrino sabem disso. Como sempre deixei isso claro do começo ao final e até hoje mantenho uma amizade super fofa com a Chefa, que acreditou em mim desde aquela consulta, mesmo eu super desengonçada, mal arrumada e doente de farrear. 

segunda-feira, 2 de março de 2015

31 anos - dia 05

Sentada na cama eu lembrei da minha primeira paixão de infância. E não adianta virar o rosto com nojinho porque sim meus amigos, criança também ama. E não é um amor pornográfico não. Pelo menos para mim era um amor que eu sempre soube que era de infância mesmo. 
Comecei a nutrir essa paixão por volta dos 8 anos quando ganhei minha primeira e única bike da vida. Uma Caloi vermelha com cestinha branca, que eu passei o mês de dezembro inteiro achando que era um armário, por conta do formato da caixa. Bobinha né?!!
Enfim. Demorei a aprender a andar. Mas lá em casa não rolou isso de rodinha adjacente não. Tive que aprender na marra. Até que um dia decidi me aventurar na rua onde morava e mongolmente o que eu fiz? bati no meio fio e cai, não sem antes bater meu dente no guidom. Quem me socorreu? Hugo. Até hoje um dos rapazes mais lindos que meus olhinhos de 31 anos já conheceu na vida. Morava umas 5 casas depois da minha e eu podia observá-lo da minha, que era de esquina, principalmente quando Papai construiu uma casa com andar e eu acompanhava cada passo dele. Ele me pegou no colo e eu nunca mais esqueci a voz, o jeito carinhoso como ele me entregou com a boca sangrando à minha irmã. Depois pegou a minha bike e entregou para meu irmão. Um fofo.
Pronto. Devo ter gostado dele até ir embora para Moscou. E olha que coisa engraçada, briguei com umas 5 garotas por causa dele e obviamente ele nunca soube de nada disso. Espero. 
Eu tinha uma prima que morava lá em casa que conseguiu muitas coisas de mim me ameaçando. Como ela sabia que Papai me daria uma surra se soubesse do meu assanhamento, ela dizia que se eu não fizesse isso ou àquilo, ela revelaria minha paixonite para meus pais e aí com certeza sim, rolaria uma surra básica para eu me colocar no meu lugar. 
Teve um dia que o Hugo resolveu tirar sarro de mim. Ele com uns dois anos a mais do que eu, na esquina em frente a minha casa, com uns amigos, me vê escondida atrás de uma pilastra da varanda da minha casa em construção. Estava tudo escuro. Eu não contava que algo do tipo fosse acontecer e nem me toquei que meu pai havia chegado do trabalho há pouco tempo. E Hugo começa com umas piadas muito sem nexo do tipo: estou vendo suas perninhas, estou vendo seu bracinho e blá blá blá. Até que papai ouviu e da janela começou a berrar que se as piadinhas fossem para mim eu iria apanhar e ter que tomar banho de sal. Sai correndo me tremendo inteira, fingindo que não era comigo e Hugo grita: volta Karla, quero ver mais!. Velho quase enfarto. Sério. Eu quase morro de medo e vergonha naquele dia. 
Mas deu tudo certo. Acho que Papai estava tão cansado que não rolou surra pesada, mas quando fomos à chácara no fim de semana, ele contou tudo para minha mãe, que nunca precisou de muito para mudar minha rota. Só com uma olhada entendi que eu precisava parar com àquilo imediatamente. 
Continuei apaixonada, chorando várias vezes por ele e inclusive depois de 4 anos em Moscou, quando voltei, ainda senti que gostava dele, mas obvio que não era mais uma paixão de infância e com medo de sofrer, até porque na época eu já tinha um namoradinho, resolvi enterrar de vez tudo o que sentia.
Entendo hoje que eu não cometi nenhum crime. Aprendi na verdade a lidar com esse sentimento que aperta o peito que é se apaixonar. Com o tempo percebi que eu iria ter muitas paixões ao longo da vida e que não viveria um conto de fadas. Senti que ele nunca seria meu e isso é algo que gosto. Gosto de ter o que contar. E Hugo, assim como várias outras paixões que eu tive, foram figuras importantes no meu desenvolvimento como mulher que ama demais a vida como um todo.

domingo, 1 de março de 2015

31 anos - dia 04

Dando continuidade ao relato de ontem, resolvi falar sobre o meu sentimento em meu primeiro momento em terras russas. 
Para vocês entenderem o drama, paramos no Rio, encontramos um casal que já morava lá e partimos juntos para Frankfurt. Tio Jorge e sua esposa na época, tinha uma menininha com menos de um ano, a Alessandra. Eles tornaram nossa viagem um pouco mais alegre e menos dramática. Não existia celular como hoje para irmos passando as informações à família, então Papai fez uma ligação do orelhão no Rio e só uns três dias depois, já em Moscou, que conseguimos passar as informações de nossa chegada sãos e salvos. 
Há 20 anos viajar era caro, muito mais caro que hoje em dia, mas recebíamos uma fartura de comidas gostosas. No voo até Frankfurt devo ter engordado de cara uns 10 quilos. Em Frankfurt ficamos parados por umas 4 ou 5 horas esperando o voo para Moscou.
Ai começa o desespero. Jantamos, claro, uma comida estranha, mas gostosa. Devorei sem nem perguntar o que era. Não falávamos nem inglês, nem alemão e muito menos o russo. Toda hora alguém falava algo e como não entendíamos ficamos de boas. Perguntávamos para o Tio Jorge e ele sempre fofo e tranquilo dizia que não estava entendendo. Tempos depois descobrimos a farsa: ele falava inglês e a esposa alemão e russo e eles só não quiseram nos alarmar. 
O fato é que algo aconteceu no avião e bem depois de rodar e rodar, descemos de: barriga! Sim amigos, meus primeiros momentos em terras russas foram olhando pela janela: bombeiros, ambulâncias e redes de televisão. Mas para o Tio Jorge, tudo estava bem e eu sou muito grata até hoje pela calma dele naquela noite gelada de terça, 31 de outubro de 1995.
Descemos, fizemos o nosso cadastro de entrada no país. Tudo muito estranho com gente esquisita. Obvio que eu não entendia nada do que eles falavam e sinceramente, eu estava tão cansada que nem português eu queria falar.
Quando a porta abriu eu travei. Um vento muito gelado bateu em meu rosto e eu me dei conta de que não tinha volta. Mas eu comecei a dar um chilique tão bizarro que Mamãe em sua sábia orientação me disse: "anda logo se não você vai levar sua primeira surra já aqui no aeroporto". Peguei meu cachecol e cobri meu rosto inteiro. Nossos casacos não aguentaram nem o percurso até o carro. Detalhe: fazia 0º. E seguimos pelo caminho para o nosso primeiro futuro apartamento e eu olhava pela janela atordoada pelo que viria e pelo que eu queria viver. E lembrava do meu professor dizendo que morreríamos congelados, mas confiava em Papai que me garantiu que conseguiríamos. E pensava: bem, Papai falou que vai dar tudo certo, que muita gente morava no frio e sobrevivia sim. Ah e ele me contou que havia verão ali em algum momento do ano. Me acalmei na hora. Pensei no sol e no dia, e no céu azul e confiei em Deus e deu tudo certo. E vi um Mcdonald´s, ou seja, havia vida normal ali. Tudo certo. 
Chegamos ao apartamento antes da meia noite. Uma amiga do Papai já tinha colocado camas e deixado alguns mantimentos para nosso primeiro dia, que lógico foi só dormindo. 
Acordamos no dia 01/11/95 e não nevava ainda. Não saímos de casa. Isso aconteceu somente no dia 02/11/95 porque era feriado na Embaixada e nosso amigo Tio Jorge saiu com a gente para comprarmos casacos e botas e todos os outros itens indispensáveis para a sobrevivência no frio. E aí nevou. Uma neve leve, mas que eu via pela primeira vez na vida. Chorei de alegria, de medo e acima de tudo de gratidão. Porque vamos pensar: eu que não tinha nem expectativa de nascer, de repente me encontrava em um país a mais de 12 mil km de distância e vendo a neve ali caindo sobre meu corpo que na época tinha menos um pouco que 1,55. Era emoção de mais para quem só tinha 11 anos. 


31 anos - dia 03

Para o terceiro dia, resolvi reviver meu último dia no Brasil, antes de embarcarmos para a tão temida Rússia. 
Alguns meses antes, Papai chegou com essa novidade. Para mim era uma mega novidade, porque sinceramente em minhas aulas de Estudos Sociais, ainda não tínhamos chegado na fase de estudar o mapa múndi. Quando contei a novidade para meu professor, ele meu vizinho na época, virou e me disse que lá era tão frio que não sobreviveríamos, o que gerou em mim um pavor monstro. Mas isso não tirou de mim o ar de superioridade, pois sim, quando criança eu era zero humildade. E os preparativos corriam solto enquanto eu tentava passar de ano em outubro. Ao mesmo tempo eu fazia catequese e tive que fazer a 1ª Comunhão sozinha, mais de um mês antes da turma. Isso aconteceu em 15 de outubro de 1995.
A viagem foi marcada para o dia 29 de outubro, um domingo frio e cheio de expectativa. 
No dia 28 aconteceu uma festa de despedida na casa de uns amigos dos meus pais que terminou às 05 da manhã. Chovia, mas a animação era imensa, ao mesmo tempo que lá em casa o clima era quase de enterro. 
Lembro de chegar e capotar e às 09 mamãe me acordar pois minha professora de catequese queria se despedir de mim. Ela me ligou antes e choramos muito ao telefone. Até que ela apareceu lá em casa e me deu uma caneta, que eu usei até estourar a tinta dentro da mochila quase um ano depois.
Da hora que acordei até a reunião de despedida na sala da casa do Guará, lembro que estávamos muito silenciosos e chorosos. A família inteira rezou um Pai Nosso e uma Ave Maria com o coração cheio de tristeza e esperança. 
E todos fomos ao Aeroporto nesse mesmo silêncio. Amigos também foram, ganhei presentinho do meu irmão, que guardei durante muitos anos. Compramos revistas. 
Mas a hora de embarcamos foi um dos momentos mais tristes que já vivi em minha vida. A dor da partida cortava nossa alma e depois de todos os abraços e desejos de boa sorte, na virada do corredor de acesso à sala de embarque, escutávamos Sobrinha Ratattoulie gritando: "volta Mainha, volta". Mainha é a forma carinhosa com que ela chama minha Mamãe até hoje. E até hoje eu escuto nitidamente a voz de desespero dela nos vendo ir embora e claro, na cabeça dela de 3 anos, para nunca mais voltar. 
No avião, Mamãe e eu só chorávamos. Papai não chorava, mas tinha os olhos marejados. Um silêncio profundo tomou conta de nossas almas até nossa chegada ao Rio, de onde pegaríamos um voo para Frankfurt e daí para Moscou.
Meu último dia no Brasil, há quase 20 anos é exatamente esse como descrevo aqui. Um dia onde eu com então 11 anos, era uma pessoa muito envolvida com os meus próprios problemas de criança, onde eu acreditava que amanhã seria um dia melhor, mesmo que esse dia fosse longe dos meus amados familiares. Na minha cabeça já um pouco adulta, era preciso. Era preciso ter força. Eu precisava a partir dali ser forte pela minha mãe. Quando viajamos para a Rússia, iriamos inicialmente ficar por um ano, mas sempre soube internamente que seria o contrário, que teríamos que ficar muito tempo e foi o que aconteceu. A notícia de que ficaríamos 4 anos não me chocou. Eu precisava sempre ser forte. E apesar dos pesares, acho que fui. 




sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

31 anos - dia 02

Para o segundo dia pensei e pensei muito e gostaria de dividir com vocês um pouco do que sinto pela minha infância. Aquela coisa toda vivida com uma vontade enorme de ser grande. Mas hoje, adulta, não grande, obviamente, sinto que eu poderia ter aproveitado mais. Essa sensação meio que me incomoda um pouco e eu as vezes, meio que inconscientemente quero reviver isso tudo de forma mais profunda, o que torna tudo isso algo estranho, tendo em vista que em breve eu farei 31 anos.
Mas eu acho que dentro dessa angústia de não ter vivido muito bem a minha infância, muito mais por culpa minha mesmo, me sinto privilegiada principalmente por ter vivido boa parte dela em Buenos Aires. Também nessa fase, Deus me deu 4 sobrinhos e apesar da primeira ter falecido antes de um ano, sinto que essa parte da minha infância é muito legal. Porque meus sobrinhos sempre foram especiais para mim. Com eles eu aprendi um pouco a ser criança, sendo criança. 
Eu nunca fui muito fã de criança maiorzinha sabe?Gosto de bebê fofo e cheiroso, mas sempre fui muito fã dos meus sobrinhos independente da idade deles e quando eles eram bebês eu sempre tentava dar uma amassada neles, pegar no colo, ajudar a cuidar, só que eu sempre fui muito estabanada, volta e meia acontecia algo, tadinhos. Quando Sobrinha Ratattoulie nasceu meu coração estava completo.  Eu sempre fui muito apegada à ela, quando nem sabíamos que era ela, pois minha irmã optou por não querer saber o sexo do bebê. 
E daí que até ir para a Rússia, minha infância foi melhorada com a chegada das crianças e toda a alegria que eles nos deram. Minhas melhores lembranças são dos domingos familiares com carrinhos, andadores, chupetas, fraldas de pano para lavar, criança chorando, comendo e eu lá na fila para comer as papinhas e mingaus que sobravam. 
Foram de fato dias muito bacanas, de sorrisos, de aprendizado. E me atrevo a dizer que apesar de não poder ter filhos e de não querer ao mesmo tempo, meu lado maternal surgiu ali, quando em 1991 minha casa se tornou uma casa cheia de encantadoras criaturinhas sorridentes e fofinhas.