Sentada na cama eu lembrei da minha primeira paixão de infância. E não adianta virar o rosto com nojinho porque sim meus amigos, criança também ama. E não é um amor pornográfico não. Pelo menos para mim era um amor que eu sempre soube que era de infância mesmo.
Comecei a nutrir essa paixão por volta dos 8 anos quando ganhei minha primeira e única bike da vida. Uma Caloi vermelha com cestinha branca, que eu passei o mês de dezembro inteiro achando que era um armário, por conta do formato da caixa. Bobinha né?!!
Enfim. Demorei a aprender a andar. Mas lá em casa não rolou isso de rodinha adjacente não. Tive que aprender na marra. Até que um dia decidi me aventurar na rua onde morava e mongolmente o que eu fiz? bati no meio fio e cai, não sem antes bater meu dente no guidom. Quem me socorreu? Hugo. Até hoje um dos rapazes mais lindos que meus olhinhos de 31 anos já conheceu na vida. Morava umas 5 casas depois da minha e eu podia observá-lo da minha, que era de esquina, principalmente quando Papai construiu uma casa com andar e eu acompanhava cada passo dele. Ele me pegou no colo e eu nunca mais esqueci a voz, o jeito carinhoso como ele me entregou com a boca sangrando à minha irmã. Depois pegou a minha bike e entregou para meu irmão. Um fofo.
Pronto. Devo ter gostado dele até ir embora para Moscou. E olha que coisa engraçada, briguei com umas 5 garotas por causa dele e obviamente ele nunca soube de nada disso. Espero.
Eu tinha uma prima que morava lá em casa que conseguiu muitas coisas de mim me ameaçando. Como ela sabia que Papai me daria uma surra se soubesse do meu assanhamento, ela dizia que se eu não fizesse isso ou àquilo, ela revelaria minha paixonite para meus pais e aí com certeza sim, rolaria uma surra básica para eu me colocar no meu lugar.
Teve um dia que o Hugo resolveu tirar sarro de mim. Ele com uns dois anos a mais do que eu, na esquina em frente a minha casa, com uns amigos, me vê escondida atrás de uma pilastra da varanda da minha casa em construção. Estava tudo escuro. Eu não contava que algo do tipo fosse acontecer e nem me toquei que meu pai havia chegado do trabalho há pouco tempo. E Hugo começa com umas piadas muito sem nexo do tipo: estou vendo suas perninhas, estou vendo seu bracinho e blá blá blá. Até que papai ouviu e da janela começou a berrar que se as piadinhas fossem para mim eu iria apanhar e ter que tomar banho de sal. Sai correndo me tremendo inteira, fingindo que não era comigo e Hugo grita: volta Karla, quero ver mais!. Velho quase enfarto. Sério. Eu quase morro de medo e vergonha naquele dia.
Mas deu tudo certo. Acho que Papai estava tão cansado que não rolou surra pesada, mas quando fomos à chácara no fim de semana, ele contou tudo para minha mãe, que nunca precisou de muito para mudar minha rota. Só com uma olhada entendi que eu precisava parar com àquilo imediatamente.
Continuei apaixonada, chorando várias vezes por ele e inclusive depois de 4 anos em Moscou, quando voltei, ainda senti que gostava dele, mas obvio que não era mais uma paixão de infância e com medo de sofrer, até porque na época eu já tinha um namoradinho, resolvi enterrar de vez tudo o que sentia.
Entendo hoje que eu não cometi nenhum crime. Aprendi na verdade a lidar com esse sentimento que aperta o peito que é se apaixonar. Com o tempo percebi que eu iria ter muitas paixões ao longo da vida e que não viveria um conto de fadas. Senti que ele nunca seria meu e isso é algo que gosto. Gosto de ter o que contar. E Hugo, assim como várias outras paixões que eu tive, foram figuras importantes no meu desenvolvimento como mulher que ama demais a vida como um todo.