quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Estava observando o quanto um montão de coisas aconteceram desde que eu saí de casa.
Muitos não sabem e nem gostaria que soubessem.
Mas aqui é o lugar a onde divido certas coisas.
Mas sem entrar no mérito da questão, em profundos detalhes, tudo que eu sei é que eu acho que estou mais louca que antes, mas com uma diferença básica: sou uma louca feliz.
Olho o meu novo quarto e vejo tudo como deveria ser. Ou que talvez nem deva acontecer, mas que está acontecendo. Lá estou em uma nova casa, com novos móveis e cortinas e lençois e edredom lilás com mandala na janela. Incensos, música de mantra.
Acordo várias vezes durante a noite, olho para o espelho pendurado no teto, com predinhas lilás dividindo, uma fita com bolinhas pretas.
Tudo aprecia que não daria certo. E ainda me parece que não dará.
Vejo as pessoas que ficaram para trás. Eu precisei romper barreiras, deixar a saia da mãe e o colo da irmã. Precise mudar de vida, embora a mudança exata aconteça a cada dia.
Tudo diferente do lar maternal, embora a minha amiga faça bem o papel de mãe. A mãe ideal que não briga e que não poe de castigo nunca.
Mas a minha mãe, ah essa sim é minha e eu sei que nada do que houve foi exatamente errado.
Assim sendo, continuo ,empolgada, animada, e maluca de tudo. Porque o lance de colocar os pés pelas mãos é bem típico de uma ariana charmosa, com cabelos negros, Amelie Poulan e meu sotaque indefinido de uma ex-Rússia instalada como um chip em minhas entranhas.
O doce sabor de um martini e de aconchêgos ao vento de Brasília.
O abraço jogado no lixo, pois eu escolhi a solidão e a felicidade, retratadas em linhas rosas desse blog que eu amo e que me dão amigos sinceros. Amigos que estão comigo, poucos, mas os que me amam julgo eu.
Obrigada pela nova pegada deixada para trás e pelos novos caminhos distribuidos em episódios que só ao assiti-los entenderei o que me resta de escolha nessa vida.
Jamais poderei esquecer o que ouvi ontem e vi pela televisão e senti.
Maysa interpretando uma de minhas músicas mais favoritas de todas, em meu segundo idioma favorito de todos: Ne Me Quitte Pas de Jacques Brel.
Ontem eu pude me sentir em solo francês, sentada no Olimpya, copos de whyski, cigarros, o cheiro de boemia, amor.
Assim me imaginei, vendo Maysa levar nosso brilho brasileiro ao povo da França. E me senti orgulhosa, de toda capacidade cultural que ela tinha. Aprendi a admirá-la, a acreditar na força que uma mulher possui, muitas vezes sem saber.
Não me importo se a vida dela era regada à bebedeiras e moderadores de apetite. Nem se ela trocou o lar e a família pela vida de boemia. Ela fez o que queria,o que acreditava ser melhor e se tivesse sido assim tão ruim, o próprio filho não teria homenageado a mãe com uma das minisséries mais lindas que eu já vi em minha vida.
E fiquei feliz pela oportunidade de ouvir essa música e de dormir com uma calma que há tempos eu não via. Dormi horas seguidas, a noite inteira, sem medo, sem angústias, sem lágrimas.
A letra triste. A melodia calmante.
Viva Maysa e sua alma perturbada e suas loucuras impensadas, mas com méritos, com amor. Ela era a deusa de seu tempo e uma beleza singular, seus olhos verdes, seu cigarrinho na mão. Quem poderia resistir tamanha sensualidade.
Maysa! Sempre.

Para aquecer corações!

Ne Me Quitte Pas
Maysa
Composição: Jacques Brel

Ne me quitte pas
Il faut oublier
Tout peut s'oublier
Qui s'enfuit déjà
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
A savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
A coups de pourquoi
Leurs coeurs s'embraser

Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas

Moi je t'offrirai
Des perles et des pluie
Venues de pays
Où il ne pleut pas
Je creuserai la terre
Jusqu'après ma mort
Pour couvrir ton corps
D'or et de lumière
Je ferai un domaine
Où l'amour sera roi
Où l'amour sera loi
Où tu seras reine

Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas

Ne me quitte pas
Je t'inventerai
Des mots insensés
Que tu comprendras
Je te parlerai
De ces amants-là
Qui ont vu deux fois
Leurs coeurs s'embraser
Je te racontrai
L'histoire de ce roi
Mort de n'avoir pas
Pu te rencontrer

Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas

On a vu souvent
Rejaillir le feu
De l'ancien volcan
Qu'on croyait trop vieux
Il est paraît-il
Des terres brûlées
Donnant plus de blé
Qu'un meilleur avril
Et quand vient le soir
Pour qu'un ciel flamboie
Le rouge et le noir
Ne s'épousent-ils pas

Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas

Ne me quitte pas
Je ne vais plus pleurer
Je ne vais plus parler
Je me cacherai là
A te regarder
Danser et sourire
Et à t'écouter
Chanter et puis rire
Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre
L'ombre de ta main
L'ombre de ton chien
Ne me quitte pas

Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas