Era uma quarta-feira, como hoje. Há 11 anos.
Passei o dia remoendo uma decisão tomada em abril. Cansada estava. O trabalho se arrastava.
Mas a decisão de decidir veio quando a minha chefe na época me chamou em sua sala.
Achando que era para falar de trabalho. Não era. Era para me dar um ultimato.
Ela me disse que observava há meses que eu andava irritada, reclamona e passava o dia falando dele. Que eu não percebia, mas que eu estava me perdendo dentro de algo que não fazia sentido. Que eu virara mãe do meu marido.
O silêncio que veio em seguida, eu o sinto até hoje. Ela tinha razão. Nos perdemos em meio ao que nem sentíamos mais um pelo outro.
Decidir separar é uma dor imensurável. Talvez eu tenha sentido algo parecido em algum momento da vida. Mas o que eu senti naquela conversa foi avassalador. Eu me entendi sozinha. Machucada. Exausta.
Cheguei em casa e ela estava como estava há pouco mais de 5 meses: na penumbra, com a fumaça do cigarro e o peso de um casamento falido.
Me deitei. Não havia nem selinho. O boa noite vinha pela educação familiar. Abigail, como nunca tinha feito, deitou em minha barriga e foi o sinal que me encorajou a esperar ela sair e eu me levantar para a frase fatal: "eu não quero mais".
Acho que eu nunca falei algo com tanta profundidade. Acho que nem o eu te amo que vinha sendo dito pelo medo do perder.
Era o medo que me levou 8 meses em desânimo diário e planejamento para o depois.
O depois veio, com uma ou duas recaídas. Talvez 3. Mas ele chegou.
Um depois do fim que não foi nada do que planejei, mas foi vivo e intenso como eu costumava ser e como foi o casamento, durante quase 4 anos.
Casamento que termina é algo que sempre será lembrado. Não me lembro muito bem quem eu era antes. Mas me lembro exatamente de quem me tornei e do que me leva a ter certeza que, apesar de ter doido muito, foi a decisão certa, na hora certa, com o empurrão certeiro da chefe.
São 11 anos de uma decisão que quando lembro, rapidamente me passa pela cabeça: E se eu não tivesse tomado essa decisão?
Só sei que não vivo de se.
Apenas de fazer o que deve ser feito.