terça-feira, 3 de março de 2015

31 anos - dia 06

Dando um salto bem grande no tempo, quero dividir com vocês como foi para mim conseguir meu primeiro emprego de carteira assinada. Acho essa parte da minha vida muito legal, principalmente porque foi tão ao acaso que me pergunto se realmente foi isso e obvio que não é né? Isso com certeza tem as duas mãos de Deus sobre o meu destino. 
Aos 19 anos frequentava todas as terças feiras um pagode/axé (esse ritmo vivia um auge muito intenso, fervoroso) em um shopping de Brasília. Sempre que meus pais não estavam em casa, vale destacar. Era fevereiro e chovia muito. Depois de quase seis meses desempregada do meu primeiro emprego, que não era de carteira assinada, fui trabalhar com um Contador perto da minha casa. Chegava em casa, tomava banho e ia trabalhar depois de horas dançando os mesmo passo e bebendo água, pois eu não tinha dinheiro nem para ir de ônibus para a boate. Por conta desse excesso de farras desenvolvi uma dor e um entupimento tenso no ouvido esquerdo. Como ainda era dependente do meu Papai fui ao Otorrino e lá ele me perguntou com o que eu trabalhava. Como estava meio surda comecei a berrar que trabalhava com um velho que adorava berrar no meu ouvido, ironicamente. Daí ele me pergunta se não quero trabalhar com ele. Só que eu achei que era para trabalhar no Consultório e disse sim com toda convicção.
Só que gente, era para ser Vendedora na loja do qual ele era dono junto com a esposa. E só percebi isso de fato no outro dia quando fui fazer uns exames e ela me entrevistou certinho com currículo na mão. Quando ela me disse o que eu faria eu fiquei com muito medo. 
Mas fui, porque eu sou meio doida mesmo. De cara fui de salto, burramente, porque eu sai de lá quase morrendo de dor. No estoque a Gerente me disse que não entendia a minha contratação e que com certeza eu não duraria 20 dias. Imagina, em 10 minutos escuto isso? Sério, saí para a loja me tremendo inteira. 
Demorei um tempo para entender realmente o meu objetivo ali dentro. Demorei a me soltar, a gostar de vender. Mas com a saída da Gerente ameaçadora, pasmem, 20 dias depois, consegui me soltar mais e em muito pouco tempo comecei a me destacar. Claro que meta mesmo eu só bati depois que a Dona da loja nos avisou que quem não vendesse bem em novembro e dezembro seria demitida em janeiro. Em dois dias bati minha primeira meta e daí até eu tirar ferias fui em um ritmo muito bom. Eu ficava das 09 as 22 na loja com o maior prazer. Aprendi todas a gírias de vendas e tinha até cliente fiel. E me tornei Vitrinista de primeira qualidade, até hoje amo olhar vitrines e criticar e imaginar como eu faria diferente. Fui caixa também e Chefe de Estoque. 
Foi um ano de muito aprendizado. Sinto que era uma preparação para me tornar Secretária, porque depois da loja me tornei mais paciente, porque vendíamos roupa de criança e nesse ramo você aprende a ter paciência com a criança e os pais delas, principalmente se ele for só dar uma olhadinha. Aprendi a respeitar vendedores. Até hoje eu me sinto culpada ao entrar em uma loja para dar só uma olhadinha, porque vivi dentro do comércio todas as dores e alegrias. Bati muitas metas, fiz amizades sinceras que duram até hoje e principalmente aprendi a ter coragem de mudar. 
Saí da loja pouco mais de 1 ano depois de ter me tornado vendedora. Saí porque fazia faculdade de Secretariado e eu ficava muito cansada. Saí para me tornar Estagiária, o que para muitos na época foi considerado um ato louco, mas me lembro da Dona da loja me dizendo que só faria um acordo comigo porque sentia que eu precisava daquela faculdade para alcançar o mundo. 
Sou muito grata pela oportunidade e tanto ela, quanto o meu Otorrino sabem disso. Como sempre deixei isso claro do começo ao final e até hoje mantenho uma amizade super fofa com a Chefa, que acreditou em mim desde aquela consulta, mesmo eu super desengonçada, mal arrumada e doente de farrear.