terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Quando eu quase desisti de ser cerimonialista

 


Há 2 anos, nós do Bolshoi realizamos um casamento que tinha tudo par ter sido perfeito. 

Era uma celebração simples, mas de um bom gosto absurdo. 

Mas quase deu tudo errado, e até hoje, não sei explicar o quê aconteceu.

Já na cerimônia, quase cometemos um erro grave, trocando a disposição dos padrinhos. Para quem não sabe, o lado esquerdo da porta de entrada é dos padrinhos da noiva e o lado direito, do noivo. E sei lá onde eu estava com a cabeça, quase troquei tudo. Quem estava fazendo a liberação não percebeu. Por sorte, corrigi o erro quando o primeiro casal de padrinhos chegou no altar. Ali meus sentidos ficaram atentos. Algo não estava bom.

Ao longo dos preparativos, a noiva me fez um pedido especial, que era guardar um salgado específico que era o preferido dela. Falei isso para Deus e o mundo. Estava em todos os roteiros, em letras garrafais. E o que aconteceu? Não guardaram o salgado da noiva. 

Na hora das fotos protocolares na mesa do bolo, não tinha microfone, a smirnoff do brinde também não estava lá, e as pessoas estavam impacientes, pois fazia calor e o espaço acabou sendo pequeno para tanta gente. 

Para piorar, me senti parte da festa, apenas porque conhecia uma convidada, e me empolguei. 

A equipe no dia foi relapsa. Eu fui relapsa e ao final de tudo, a noiva não queria olhar na minha cara. 

Lembro até hoje e me arrepio. Eu briguei tanto, que fiquei doente. Vários dias com enxaqueca e dores nas costas. E passei 6 meses olhando as redes sociais, à espera de ser detonada pelo casal. 

Quando saí deste evento, um sábado, 18h, fui fazer a unha e a Malu me deu de presente uma massagem. Porque eu só chorava e me culpava e tentava refazer algo que não tinha mais jeito. De alguma forma, na minha cabeça, eu tinha tornado o dia do casal, um pesadelo sem fim. 

O noivo me acalmou, dizendo que tinha sido tudo perfeito. Até hoje ele fala isso. A noiva, nunca se pronunciou, e eu lá no fundo, agradeço. 

Pensei em desistir ali. E teria desistido se não fossem outros eventos já fechados para àquele ano. Foi por pouco. Me senti incompetente como cerimonialista, como líder e senti que era hora de mudar. 

E depois deste evento, realmente nossa postura mudou. Uso este casamento como exemplo de tudo que não pode acontecer, principalmente, reforçando o que sempre digo: se alguém da equipe, acordar no dia sentindo que não quer trabalhar, é melhor não ir. Porque eu preciso estar 100%, e se alguém atrapalhar isso, o desastre pode ser imperdoável.

Graças a Deus, depois deste casamento, muita coisa mudou. E digo com o coração aberto, que até hoje só cometi um erro que considero muito grave, e foi em nosso casamento de março de 2020, tendo em vista que não levei para o altar um papel onde a noiva colocaria seus votos. 

Fora isso, estamos em um grau de excelência, graças principalmente, ao nosso último treinamento, onde, primeiro, só foi quem queria realmente trabalhar e segundo porque quem quer trabalhar, entende que é necessário estar positivo e confiante, para que em equipe, realizemos tudo com o máximo de acertos necessários. 

Apesar de, agradeço à equipe daquele dia, porque, foi aí, nestes muitos erros, que nos reajustamos e nos tornamos uma família. Choramos juntas, aprendemos juntas e hoje, seguimos firmes no que acredito ser importante: realizar sonhos com paixão, fé e coragem. 

Ao casal do dia 19 de janeiro de 2019, nosso eterno obrigada por terem se calado diante de tanto erro. Nós aprendemos com isso e nos tornamos melhores. 



Precisamos falar sobre cabelo, ou a falta dele. Sobre empatia e respeito.

Desde muito novinha, eu tinha algumas certezas em minha vida: eu seria tatuada, moraria sozinha e teria o cabelo bem curtinho. 

Tudo isso se realizou e eu fico abismada, mas faltava o cabelo bem curtinho. Há anos que não o deixo crescer nem próximo ao ombro, sempre curto. 

Nunca gostei de cabelo e além de gastar uma fortuna, não me sentia feliz. Em dezembro passado, pedi para a Malu passar a máquina e no sábado passado, pedi para ela raspar ainda mais. Eu queria o mínimo de cabelo e quando vi o resultado, nunca pensei que fosse me achar tão linda.

Postei a foto nas redes sociais e logo veio o comentário de uma pessoa, como uma crítica construtiva de que por eu ser cerimonialista eu deveria parecer charmosa e não um zagueiro do Flamengo.

Até concordei e me calei. Mas algumas pessoas não perdoaram e o criticaram, de forma construtiva, pela fala machista. Depois disso, até o tirei de meus contatos.

Então que precisamos falar sobre cabelo, mas na verdade, precisamos falar sobre respeito.

Algumas pessoas, talvez uma grande parte, realmente não gostaram do meu novo look capilar, mas se calaram. E fiquei feliz que esta pessoa tenha desabafado por estas que não gostaram, porque assim, foi logo de uma vez, uma crítica única, mas coletiva. 

Pelo menos não foi um comentário vindo de um homem, que com o perdão da palavra: queria me comer, e assim solta a pérola: gosto de cabelo grande para ter o que pegar. 

Volto a declarar aqui que eu sou assim: se algo não me agrada no outro, eu me calo. Sempre irei abrir minha boca para elogiar. Isso não é ser falso, mas é respeitar o gosto do outro. Demorei muito a entender o poder da empatia e quando isso aconteceu, o mundo ficou melhor. 

Aprendi que eu não sou absoluta em nada, que o que eu penso será diferente do que o outro pensa e que quando alguém não solicita a minha opinião, é porque ela não quer saber a minha opinião. Simples. 

Sinceridade é bem vinda, sim. Mas quando ela é solicitada e não essa coisa aí que o mundo da internet anda destilando sem medo do que nos reserva amanhã. 

Uma vez quase perdi uma grande amizade porque, pasmem, contei quantos cachorros-quentes ela havia comido. Mas olha o absurdo?!!!

Agora, com a maturidade e os desenganos da vida, aprendi que silêncio é uma pedra preciosa e a minha opinião só é bem vinda se for realmente for necessária. Se não, cada um que viva sua vida como bem entender, claro, sem ferir os meus direitos, como foi o caso desta pessoa.

O meu direito de fala acaba quando desta fala brotarão crises, lágrimas, dor e vergonha. 

A empatia deveria ser matéria escolar. 

Quanto à minha profissão de Cerimonialista, não sei bem se é importante parecer charmosa, afinal, como foi dito em uma das mensagens: não somos a noiva ou a debutante e quanto menos chamar a atenção melhor. E te falo, com esse cabelo é bem capaz de ninguém me notar mesmo, e isso será o ponto alto da minha decisão.

Agradeço a cada um que me defendeu. Fiquei tão em choque que não conseguia expressar minha indignação. Mas eles foram muito incríveis, mostrando que eu posso até estar feia, mas sigo sendo uma querida por muitas pessoas. E isso sim, vale mais do que tudo para mim.