Como combinei com vocês todas as quintas até o dia do meu aniversário, eu contarei fatos que fizeram parte de minha vida que me transformaram positivamente. Coisas que por algum motivo me fizeram rir, chorar, querer matar 100 ou desistir, mas que no fim das contas, era só mais um acontecimento capaz de me alertar sobre o quanto a vida é assim mesmo, nada vai mudar. Temos todos que passar pelos nosso caminhos, as vezes sozinhos, as vezes com uma multidão.
Enfim, decidi começar de trás para frente digamos assim.
Começo refletindo sobre meu lado profissional. Daí vou voltando até chegar ao momento mais importante que foi a adoção.
Todo mundo que me conheceu pequena jurava que eu seria Jornalista. Pense numa criança chata, que amava perguntar e imaginar que eu escreveria mil livros?... Eu também acreditei nisso por muitos e muitos anos. Eu vivia uma obssessão com isso sabe? Eu só falava em entrar para a UNB e me tornar redatora chefe de algum jornal local. Só quis trabalhar em televisão uma vez, quando me imaginei sendo VJ da MTV, cheguei a mandar carta e tudo, mas nunca foi o meu forte por vários motivos e um deles é que minha voz na televisão seria assustadora.
Pensei também que eu poderia ser produtora de eventos, mas não de qualquer evento, eu me imaginava no backstage de algum showzão desses artistas mega famosos.
Já quis muito ser diplomata. Já quis fazer direito. Já quis ser psicóloga, acreditam?
Mas daí, nada disso se concretizou. Talvez eu não tenha me dedicado com afinco ou talvez não eram esses meus destinos.
De repente, me vi vendendo roupa infantil em uma loja famosa e amei a experiência. Ok, as vezes eu saía arrasada pois havia vendido uma meia, mas em outros eu bombava tanto que saia chorando de alegria. Cheguei a ficar em primeiro lugar no ranking das melhores vendedoras. Com o tempo, cansei das longas horas em pé e do salário que não era fixo, o que me fez dever uma fortuna ao banco.
Ainda como vendedora, uma pessoa acreditou em mim e me ajudou a entrar na faculdade. Comecei a estudar para ser Secretária Executiva. Eu já havia trabalhado em um escritório de empréstimo de dinheiro, mas eu jurava que não conseguiria viver disso, pois na época, com 18 anos, eu era muito estabanada. E vamos combinar, demorei muito tempo para acreditar que eu seria capaz, e muita gente duvidou. E teve quem achou que era um diploma nada a ver com nada. O que faz uma Secretária? Ouvi muito isso.
Logo comecei a estagiar, e em um desses locais, a experiência foi muito negativa. Lembro que ao me demitir, o senhorzinho fofinho falou que eu deveria mudar de área, pois eu havia escolhido a profissão errada. Só que ali eu decidi que nunca mais deixaria alguém desacreditar de minhas capacidades.
Fui trabalhar no STJ e aí sim, ali eu tracei meu destino. Trabalhei com uma equipe maravilhosa e ganhei não só uma chefe, mas uma pessoa que me tornou de fato a confiança e a integridade que sou hoje. E ela não era Secretária. Ela era meu anjo da guarda. E ainda é.
Claro que ao longo da caminhada muitas pessoas me ajudaram. Várias pessoas que abriram mão de uma oportunidade de estágio, porque não falavam espanhol, por exemplo, e daí lembravam de mim. Tive um paquera que abriu mão de um estágio, para que eu pudesse fazer um acordo, e assim deixar de ser vendedora e começar a atuar como Secretária, embora eu tenha ido estagiar em uma recepção de uma academia de ginástica. Tive um amigo que me deu meu último estágio para que eu pudesse terminar minha faculdade em um local seguro. Tive a ajuda das colegas, uma em especial, no trabalho de conclusão de curso e em toda a caminhada nos 3 anos e meio. Tive a oportunidade de conhecer o Príncipe Felipe, da Espanha, e trabalhar com o Cerimonial dele e sugar ao máximo as informações sobre este setor determinante no trabalho de uma empresa, e desde então me arrisco em organizar o que for preciso.Trabalhei na Embaixada do Peru até cair de paraquedas (uma amiga desistiu de vir à entrevista e me indicou) para o local a onde trabalho hoje, e onde sou muito feliz.
Recebi duras críticas ao longo dessa caminhada profissional. Me critiquei várias vezes, mas não desacreditei na vontade que eu tinha de me tornar uma boa Secretária. Tive aula com uma professora que mudou muito o meu jeito de agir, me passou confiança e acreditou e acredita em mim até hoje. Tive outra professora que me fez repensar e escolher apenas um concurso público e com ela aprendi a acreditar na iniciativa privada.
Tive um monte de dificuldades na época da faculdade: grana curta, comida pouca, desânimo demais, 37 kilos, uma pré-parada cardiorespiratória, convites para me prostituir, preguiça, matérias chatas, gente chata... Mas eu estava lá todo santo dia, até mesmo em férias, lutando por àquilo que lentamente me conquistou.
Hoje eu sou secretária por opção, por amor, por escolha de alma. Adoro o que eu faço. Tenho dois chefes que me escutam, que aceitam minhas mudanças, minhas ideias e que dão a oportunidade de ser quem eu sou, dentro e fora. Com eles aprendo muito. E quero aprender mais. Tenho mil projetos, mil sonhos, mas já não tenho essa pressa. Sei que sou capaz. Sei que posso ir onde eu quiser. Hoje me arrisco em fazer uma entrevista inteira em russo, coisa que há 5 anos seria impossível, porque eu demorei demais a aceitar que o meu destino já havia sido escolhido por mim, só não sabia que era tão lindo. Trabalho muitão, porque como boa ariana que sou, eu me acho capaz de transformar 24 horas em 36, então além das 8 horas no trabalho, dou aula, tenho brechó, organizo eventos... Uma vez alguém disse que esperava me ver rica fazendo tanta coisa. Não quero ficar rica. Quero ser respeitada.
E com certeza o fato mais marcante de minha caminhada, foi o dia em que eu ouvi da minha chefa do STJ: " Karla, o sol é para todos e a sombra é para poucos. Você está cuidando para ficar na sombra, e você conseguirá"
Esta frase ecoa em minha mente até hoje. E todas as decisões profissionais que eu tomo, eu penso nesta frase e acredito sim, que hoje eu luto muito, para um dia poder ficar na minha tão sonhada sombra. Talvez eu seja egoísta, mas o que eu realmente tenho certeza, que não há nada melhor do que se sentir bem em seu ambiente de trabalho, independente de quem seja seu chefe. O meu atual chefe é meu grande amigo, mas sei que se ele não fosse o fofo que ele é, eu teria conseguido superar. Mas minha Mamãe linda sempre me disse que eu sou uma garota de sorte. E eu acredito muito nisso.
E tenho certeza que nestes 29 anos de vida, cada dificuldade no meu lado profissional foi o motivo pelo qual eu passei a acreditar na vida de uma forma muito positiva. E eu quero mais 29 anos para me realizar. Se um dia eu achar que posso ser outra coisa, eu serei e trilharei a caminhada muito mais confiante. A onde eu estiver, eu acreditarei em mim.
Um super beijo e desculpem o texto longo. O meu mês de março é sempre assim, emotivo e apaixonante.