Pensando bem, acho que tenho algum defeito de fábrica. É a boca suja, dizem uns. O cheiro, dizem outros. A postura, dizem terceiros. Ou apenas, nada.
A verdade é que muito de mim é desconhecido. Muito do que quero não me pode pertencer, puro e simplesmente porque não me pertence de alma.
Sou voraz em meus acontecimentos. Já nasci queimando. Já cresci imortalizando sonhos. Já subi degraus em nuvens. Já cai em espinhos retorcidos.
Já não sei de fato o que quero ser, ter, possuir. Até o ano novo haviam sintomas de mudança, de recomeço, mas o novo ano chegou e além da vergonha de ser eu mesma, existe a velocidade de me esconder em meus charutos cubanos.
Caminho lentamente, com um sono colossal. Pernas doem. Olhos também. Sono que nunca vem. Amo um, desamo outro, quero aquele rapaz lindo, mas que ok não é obrigado a me querer.
2016 veio e não veio. Estou presa aos meus 150 tons de cinza e me vejo ali, através da fechadura, entre lágrimas e confetes, porque eu amo confetes e odeio o carnaval.
Aliás, lá vem o Carnaval e a minha avenida é demasiadamente solitária e escura.
O que eu faço para me torturar assim? Existe, dizem a grande maioria.
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