sábado, 23 de junho de 2012

Tem como julgar?. Não. Só admirar!


VIDA UTIL - 03/06/2012 16h35

Como eu fiz: “Fui pai depois dos 70 anos”

 JOÃO  ROSSI  Tem 88 anos. Pai de seis filhos, tem quatro netos e quatro bisnetos. A caçula, Carolina, tem 15 anos (Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)

O aposentado João Rossi, de 88 anos, fala das mudanças que a paternidade tardia trouxe para sua vida

EM DEPOIMENTO A THAIS LAZZERI

 Quando Carolina nasceu, eu tinha 73 anos, cinco filhos adultos, netos e bisnetos.

Minha primeira mulher morrera havia muitos anos quando conheci a Maria Aparecida da Silva, a Cida, no centro espírita que frequentávamos. Ela tinha 25 anos. Eu, 43 a mais. Passamos um ano juntos até que a pedi em casamento. Qualquer um pode imaginar o rebuliço que isso causou em nossas famílias. Felizmente, logo perceberam que nos amávamos. Estamos juntos há 19 anos. Nunca falamos em ter um bebê. Minha mulher tomava pílula anticoncepcional. Com minha idade, nem imaginava que essa possibilidade existia.

Durante uma viagem que fizemos ao Paraná, de ônibus, Cida passou mal durante as cinco horas de viagem. Na ida e na volta. Ficamos preocupados. Poderia ser algo grave. Nos três anos em que estávamos casados, ela nunca havia ficado indisposta.

O mal-estar melhorou na semana em que voltamos, mas não desapareceu. O pessoal que trabalhava com a Cida dizia que ela estava grávida. Depois de muita insistência, decidimos fazer o teste para provar que todos estavam enganados. Fui buscar o resultado do exame de sangue, mas não entendi o que estava escrito. Pedi ajuda a uma vizinha médica que, sem me preparar, contou que eu seria pai.

Na época em que meus outros filhos nasceram, trabalhava das 5 às 23 horas. Não consegui acompanhar a gestação de nenhum deles e, algumas vezes, nem o parto. Com a Carol, a caçula, foi diferente. Já estava aposentado quando ela nasceu. Participei de todas as consultas e, no dia do nascimento, há 15 anos, levei a Cida para o hospital.

Com a Carol descobri quanto cuidar de uma casa e de uma criança é tarefa árdua. É mais difícil que a jornada de 16 horas no trabalho. Aprendi a fazer papinha, a trocar fraldas e a dar banho. Não sei como as mulheres que trabalham fora conseguem tomar conta de tudo.

Com a Carol, vivi outro lado da paternidade. Entendi o prazer de acompanhar o crescimento e o desenvolvimento de uma criança. Superei limites físicos ao correr atrás de um bebê mesmo já muito cansado. Consegui escolher roupa de menina sem perguntar o tamanho que ela usa para a mãe. Deixei de dar atenção para quem, mesmo conhecendo minha história, perguntava se aquela garotinha era minha neta.

Aprendi a ter sonhos numa idade em que muita gente não pensa no futuro. Estamos às vésperas da festa de 15 anos, com direito a festa à fantasia. Estarei vestido como o Poderoso Chefão por sugestão de uma neta. Carol, de Alice no País das Maravilhas.

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