EM DEPOIMENTO A THAIS LAZZERI
Quando Carolina nasceu, eu tinha 73 anos, cinco filhos adultos, netos e bisnetos.
Minha primeira mulher morrera havia muitos anos quando conheci a Maria
Aparecida da Silva, a Cida, no centro espírita que frequentávamos. Ela
tinha 25 anos. Eu, 43 a mais. Passamos um ano juntos até que a pedi em
casamento. Qualquer um pode imaginar o rebuliço que isso causou em
nossas famílias. Felizmente, logo perceberam que nos amávamos. Estamos
juntos há 19 anos. Nunca falamos em ter um bebê. Minha mulher tomava
pílula anticoncepcional. Com minha idade, nem imaginava que essa
possibilidade existia.
Durante uma viagem que fizemos ao Paraná, de ônibus, Cida passou mal
durante as cinco horas de viagem. Na ida e na volta. Ficamos
preocupados. Poderia ser algo grave. Nos três anos em que estávamos
casados, ela nunca havia ficado indisposta.
O mal-estar melhorou na semana em que voltamos, mas não desapareceu. O
pessoal que trabalhava com a Cida dizia que ela estava grávida. Depois
de muita insistência, decidimos fazer o teste para provar que todos
estavam enganados. Fui buscar o resultado do exame de sangue, mas não
entendi o que estava escrito. Pedi ajuda a uma vizinha médica que, sem
me preparar, contou que eu seria pai.
Na época em que meus outros filhos nasceram, trabalhava das 5 às 23
horas. Não consegui acompanhar a gestação de nenhum deles e, algumas
vezes, nem o parto. Com a Carol, a caçula, foi diferente. Já estava
aposentado quando ela nasceu. Participei de todas as consultas e, no dia
do nascimento, há 15 anos, levei a Cida para o hospital.
Com a Carol descobri quanto cuidar de uma casa e de uma criança é
tarefa árdua. É mais difícil que a jornada de 16 horas no trabalho.
Aprendi a fazer papinha, a trocar fraldas e a dar banho. Não sei como as
mulheres que trabalham fora conseguem tomar conta de tudo.
Com a Carol, vivi outro lado da paternidade. Entendi o prazer de
acompanhar o crescimento e o desenvolvimento de uma criança. Superei
limites físicos ao correr atrás de um bebê mesmo já muito cansado.
Consegui escolher roupa de menina sem perguntar o tamanho que ela usa
para a mãe. Deixei de dar atenção para quem, mesmo conhecendo minha
história, perguntava se aquela garotinha era minha neta.
Aprendi a ter sonhos numa idade em que muita gente não pensa no futuro.
Estamos às vésperas da festa de 15 anos, com direito a festa à
fantasia. Estarei vestido como o Poderoso Chefão por sugestão de uma
neta. Carol, de Alice no País das Maravilhas.
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