Não sei porquê, mas este ano estou muito nostálgica com relação à minha adolescência.
Acho que é porque estou acompanhando com mais atenção o fim do ano letivo de filhos de alguns conhecidos, principalmente do terceiro ano do ensino médio e conversando com uma amiga, comentamos sobre nossos fins de ensino médio e voltei imediatamente ao ano de 2022, quando eu terminei a escola.
Estou também em um grupo com muitas pessoas daquela época, embora fale pouco nele. E é muito interessante ver no que nos transformamos nos últimos 22 anos.
Pensar que eu terminei o ensino médio, há 22 anos, por si só já me causa espanto. O tempo passou rápido e apagou pouca coisa daquela época. Esqueci muitos nomes, mas não rostos. Lembro de inúmeros episódios: bons e ruins, que moldaram a pessoa que eu sou hoje.
Mas quem era eu naquela época?
Resposta: ingênua e ao mesmo tempo desbravadora. Inteligente para as matérias que me interessavam, dedicada à leitura, amante do teatro e participante ativa das gincanas: cheguei até a cantar em um festival de músicas em inglês (desastre 1). Também dancei funk de top e 62 quilos, achando que estava arrasando (desastre 2).
Sonhava com a UNB, com o jornalismo e com o mundo. Mas minha dedicação era limitada pela minha inteligência limitada para as exatas. Ótima debatedora e apresentadora de trabalhos e péssima na hora de fazer prova. Jogadora de Handball animada, ah eu amava as aulas de educação física, meu Deus!
Pegadora nata! Namorei muito, com os mais variados tipos de rapazes possíveis. Emendava, terminava, começava com o anterior e terminava de novo.
Me dividia entre cuidar da casa, assistir MTV, escutar música, escrever em meus diários e frequentar a Igreja. Não ia à festas se não as que meus pais me obrigavam a ir com eles, mas eu amava. Só ia ao cinema e a algum show se minha irmã me levasse (e pagasse). Cresci ouvindo que vício e hobby cada um tem o seu.
Vivia com o que me fosse possível. Meus pais não esbanjavam. Então, nada de roupa de marca, nada de material escolar descolado, nada de baladinhas, nada de lanche especial na escola com mesada. Era o que tinha e eu não reclamava. Nunca quis ser o que os outros eram. Eu gostava da minha vida como ela era.
Infelizmente, por dentro, eu já era uma fodida. A cabeça já era transtornada, mas ao mesmo tempo, eu sofria menos. Eu achava que ia dar conta. Que eu ia triunfar. Que eu ia passar na UNB, casar, ter filhos, passar em um concurso. Tudo estava muito planejado na minha cabeça e não havia tempo para sofrer. Eu me importava muito pouco com o passado, o presente e minha única preocupação com o futuro se resumia a conseguir um emprego e estudar.
Mas o ensino médio teve fim e foi doloroso não poder ir para a escola todos os dias, depois de tantos anos. Não estar ali em um ambiente conhecido e relativamente seguro. O futuro veio. A fase adulta chegou com o pé na porta. Mal tinha saído da escola, eu já estava trabalhando, pagando conta, aprendendo coisas de banco, me inscrevendo para vestibular, conciliando com a Igreja, com a minha parca vida social e com meus, já fracassados relacionamentos.
Foi uma boa época. Fui feliz em boa parte dela. Fiz grandes amigos, alguns inimigos, e de lá para cá, pouco restou da adolescente rechonchuda, romântica e já com alguns fantasmas no armário.
Chegamos, 22 anos depois, ao que digo ser uma fase relativamente boa da vida.
Graças a Deus.
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