A etapa de aniversários em Moscou foi também uma fase de muitas coisas engraçadas e também digamos tristes. Ter passado 4 aniversários longe da família, no sentido de irmãos, sobrinhos e amigos foi muito doloroso para mim em certos aspectos. A minha casa sempre foi tão cheia de vitalidade, e lá no frio, apesar dos esforços de contentamento, tudo parecia faltar, não preencher, não alegrar. Mas era tudo feito com carinho, e assim, eu não deixava a data passar em branco.
Aos 12 anos, mudamos de apartamento, então minha mãe havia decidido que não faríamos festa. Eis que chega lá uma amiga dela, com bolinho, balões, refrigerante e uns amigos da Embaixada. Na correria da ocasião acabei convidanddo apenas uma amiga da escola, uma cubana chamada Mirally, que me ajudou muito na fase de adaptação. Não pude chamar os amigos russos, porque ainda não tinha uma intimidade para tal evento. Lembro que foi uma noite muito fria. Nevava lá fora, e eu em determinado instante da noite, me vi olhando à janela, agradecendo à Deus pelo meu primeiro aniversário vendo a neve, assim como acontece em contos de fada.
Aos 13, resolvi que queria uma grande festa. E foi. Com direito à docinhos, balões, enfeites na mesa e um bolo rosa. A vela e todos os enfeites, foram enviados por minha irmã, alguns meses antes. Lá não tinha isso. Foi a minha primeira grande festa de aniversário, com direito à lembrancinhas no estilo bem brasileiro (sacolinhas). Convidei várias amigas da escola, que ficaram encantadas com os quitutes, levaram quase todos os papéis da mesa, os que colocamos os docinhos dentro. Elas acharam tudo muito organizado e passaram um tempão comentando a minha festinha. Ganhei vários presentes engraçados, mas lembro que ganhei um cabide com cheirinho, nunca me esqueci, até porque na hora eu não gostei. Ganhei também um pingente com um olho de Alá, de uma angolana que fez o meu bolo e que era a grande amiga da vez de minha mãe. Foi com certeza uma noite incrível, eu estava linda, alegre, mas no fundo eu sabia que faltava muita gente para completar a tal felicidade esperada na data.
Aos 14, minha mãe resolveu fazer um projeto de feijoada. Sim, estavámos na Rússia e faltavam quase todos os ingredientes. Mas sabe, eu acho que foi uma das melhores que já comi. Foram duas grandes amigas da escola e amigos do trabalho do papai. Mas a presença mais importante do dia, foram os amigos da comunidade da Igreja que eu participava. Ganhei uma viagem para Salamanca, para conhecer na época um convento. Sim, eu já quis essa vida. Mas meu pai vetou o sonho e claro, eu hoje não creio que foi em vão. O fato mais interessante foi a minha amiga Ira, comendo a bendita feijoada, nada mais nada menos que 6 vezes, levando para casa uma marmita com metade do que havia sobrado. Eu me diverti tanto, rindo dela lá comendo horrores, mal sabendo que aquilo era nossa comida mais simples de todas. Mas para mim, foi o melhor almoço que já tive.
O aniversário de 15 anos, não teve valsa, teve salsa. Fim de inverno, já não havia neve, fazia calor, horário de verão acabara de começar. Missa, celebrada em português e espanhol e bolo, champagne, a salsa com meu pai, troca de vestidos(confeccionados por mamãe), flores, e namoradinho marcando presença. Eu comecei a namorar justamente no dia de meu aniversário de 15 anos. O melhor presente: a passagem de volta ao Brasil, com direito a visitar Londres por 15 dias. A realização de um de meus sonhos estava acontecendo, então eu estava radiante. Ao mesmo tempo, meu coração doía, por saber que aquela seria a última festa com minhas amigas de escola, que eu deixaria sabe-se lá por quanto tempo, as terras geladas que por 4 anos havia me recebido de forma tão calorosa. Meus 15 anos, apesar de longe da família e de quem eu amava de verdade, foi uma festa inesquécivel, como a idade pede.
Bem, amanhã conto as festas na volta ao Brasil. Até os 20 por favor. Porque daí, não dá né?. Haja aniversário!
Beijo grande!
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